Monalisa Soares e Gabriella Bezerra*
O cenário eleitoral de Fortaleza em 2024 se define primordialmente pela competitividade, ocasionada por rupturas entre aliados políticos de outrora. Capital mais populosa do Nordeste, quinto maior colégio eleitoral do Brasil, de suas 9 candidaturas, 4 apresentam condições de chegar ao segundo turno, nas pesquisas Datafolha e Quaest: Capitão Wagner (União Brasil), ex-deputado federal e candidato veterano nas disputas eleitorais na capital, apresenta variação entre 29% e 31% da preferência eleitoral; José Sarto (PDT), com mais tempo de carreira política entre os competidores e candidato à reeleição, com 22% e 23%; André Fernandes (PL), deputado federal mais votado do estado em 2022, com 14% e 16%;e Evandro Leitão (PT), presidente da Assembleia Legislativa e ex-presidente do clube de futebol Ceará Sporting Club, com 10% e 14% da preferência dos eleitores.
Os candidatos de PL e União Brasil disputam a manutenção da preferência entre o eleitorado bolsonarista e conservador. Em 2022, ambos estiveram na linha de frente da campanha de Jair Bolsonaro no Ceará, garantindo a ampliação de sua votação no estado e conquistando 633.009 votos (41,82%) da capital para o ex-presidente no segundo turno. Já Evandro e Sarto integravam o mesmo partido (PDT) até dezembro de 2023, quando o primeiro se filiou ao PT, intensificando o racha entre os antigos aliados PT e PDT e a ruptura política entre os irmãos Cid e Ciro Gomes. O cenário reflete, ainda, a intensificação das divergências e do antagonismo interno ao PT no Estado, entre o ex-governador e atual ministro da educação, Camilo Santana e da ex-prefeita de Fortaleza e deputada federal, Luizianne Lins, que almejava disputar novamente a prefeitura da cidade.
Como estreantes na disputa ao executivo, Evandro e André, precisam considerar o alto desconhecimento político de 38% e 32% dos/as eleitores/as, de acordo com a pesquisa Quaest. Já Wagner e Sarto são os mais conhecidos, apenas 5% e 7% do eleitorado indicam não conhecê-los; por outro lado, a rejeição nesses casos tende a ser maior, especialmente, para o candidato à reeleição, com 43% de rejeição. Wagner acumula 37%, Evandro, 32% e André Fernandes, 26%.
Considerando o tempo de rádio e TV, a balança a favor do petista é significativa, com quase 5 vezes o tempo médio dos adversários. Essa assimetria pode favorecer a reversão do alto desconhecimento, como também associá-lo ao seu trio de apoiadores: o presidente Lula (PT), o ministro da educação, Camilo Santana (PT), e o governador do estado, Elmano de Freitas (PT).
O peso dos apoiadores também foi medido nas sondagens. Além de Evandro, o candidato à reeleição tem mobilizado bastante seu principal apoiador: o ex-prefeito Roberto Cláudio (PDT). André Fernandes abriu a campanha numa carreata com Bolsonaro (PL), o uso da imagem do ex-presidente, no entanto, deve encontrar uma justa medida, já que ele é a liderança com menor influência na mobilização eleitoral. Diante de adversários vinculados a grupos políticos, Wagner busca apresentar uma imagem de independência e autonomia.
Na estreia da propaganda eleitoral, André Fernandes mobilizou o léxico bolsonarista, com a crítica à “velha política” e ao sistema, destacou sua juventude e tentou construir para si o lugar de genuína renovação. Capitão Wagner, por sua vez, recuperou sua trajetória de ex-vereador e ex-deputado mais votado na cidade para demarcar sua experiência. Buscou mostrar-se mais experimentado, com um repertório ampliado para além da segurança pública, tema que lhe alçou às disputas políticas. Afirmou que amadureceu com o tempo, aprendeu mais sobre a gestão e mudou. Convocou o eleitorado para segui-lo rumo à mudança.
Evandro evidenciou suas experiências em cargos públicos, apresentou seus padrinhos, destacou sua capacidade de diálogo. Acusado pelos opositores de “cristão novo”, por sua recente filiação ao PT, retomou o jingle da campanha de Lula em 2022, “Bote essa estrela no peito, não tenha medo ou pudor”. Por fim, Sarto dedicou seu primeiro programa eleitoral para os/as jovens, destacando as realizações da gestão para esse público. A peça buscou justificar a mudança de imagem do candidato à reeleição, que passou a usar um óculos juliet, espelhado, e mobilizar gírias de jovens: “É sal, é Sarto!”. Finalizou o programa afirmando que “a mudança não pode parar”.
De um modo geral, as estratégias discursivas das candidaturas tocaram no tema da mudança. Apesar do crescimento da avaliação positiva do prefeito, sua alta rejeição tensiona o cenário político, tornando a eleição competitiva. A expressiva visibilidade com a propaganda eleitoral de rádio e TV e a intensificação do ritmo da campanha poderão impactar as posições no tabuleiro da disputa. O monitoramento atento das próximas pesquisas nos ajudarão a compreender quais candidatos conseguirão mobilizar a população de Fortaleza, indicando-nos os rumos de um provável segundo turno na capital cearense.
(Crédito da imagem: Divulgação/Secretaria de Turismo de Fortaleza)
* Monalisa Soares é professora do Departamento de Ciências Sociais e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal do Ceará (UFC) e pesquisadora do LEPEM-UFC. E-mail: monalisasoares@ufc.br. Gabriella Bezerra é cientista política, professora da UVA, pesquisadora do LEPEM-UFC e do IPP-CEBRAP. E-mail: gabibezerra@cebrap.org.br. Este artigo foi publicado originalmente pelo Jornal GGN.
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