A campanha eleitoral de 2024 começa diante de um cenário de fortes incertezas
A eleição presidencial de 2022 estabeleceu um marco a partir do qual se pode pensar como serão disputadas as eleições municipais deste ano. De um lado, evidentemente motivado após a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o PT tenta uma recuperação do campo de esquerda nas disputadas municipais. É preciso lembrar que o PT foi o grande derrotado nas eleições de 2016, quando perdeu um número significativo de prefeituras – o partido venceu em 644 municípios em 2012 e conquistou apenas 256 cidades na eleição seguinte, sem eleger nenhum candidato nas sete disputas de segundo turno – e não conseguiu se recuperar completamente desta derrota nas eleições municipais de 2020. Assim, existe uma forte expectativa do partido em relação à recuperação eleitoral em 2024, especialmente em capitais e cidades de grande porte.
Por outro lado, independentemente da derrota na eleição de 2022, não há como negar que o PL e o bolsonarismo se fortaleceram muito naquelas eleições proporcionais, pensando que o PL é hoje a maior bancada da Câmara dos Deputados, com 99 deputados. Ainda assim, a sucessivas derrotas judiciais do ex-presidente Jair Bolsonaro e algumas das condenações do PL colocam em questão se o partido conseguirá repetir agora esse resultado.
As eleições municipais deste ano parecem, mais uma vez, que serão polarizadas pelo bolsonarismo e pelo lulismo, ainda que seja interessante também pensarmos em outras dinâmicas para estas eleições.
Continuidade x oposição
Na pesquisa “A Cara da Democracia” de 2024, realizada no final de junho e cujos resultados foram tornados públicos em julho, temos um terceiro elemento fundamental: o eleitor. Independentemente do fato de que há uma forte polarização nas grandes cidades e nas capitais, ele afirma que irá olhar para as administrações e que será o êxito ou o mau desempenho dos prefeitos que vai determinar seu voto.
Entre eles, 41% pretendem votar no candidato que represente a continuidade da atual gestão à frente da prefeitura, em sinal de aprovação do que vem sendo feito nos últimos quatro anos em sua cidade. Já 37% dos eleitores indicam que deverão buscar um nome de oposição ao prefeito de sua cidade, segundo a pesquisa. As duas avaliações, pela continuidade e pela mudança, estão empatadas no limite da margem de erro, que é de 2 pontos percentuais. Outros 22% não sabem ou não responderam, parcela que pode se tornar decisiva para o resultado eleitoral.
Assim, iniciamos as eleições municipais de 2024 com quadro de fortes incertezas. De um lado, não é claro que o desempenho eleitoral do PT e dos partidos da base aliada irá se repetir ao longo deste ano. Na verdade, as eleições de 2022 trouxeram resultados contraditórios para o PT, como, por exemplo, a derrota em regiões que ele tradicionalmente vencia, caso da região Norte, e a melhora em seu desempenho na região Sudeste, apesar de não ter conseguido vencer nessa região. Portanto, é possível pensar que o grande objetivo do PT seria conseguir expandir sua base política para além da região Nordeste, onde se consolidou desde o início deste século.
Por outro lado, para o bolsonarismo é fundamental manter algumas de suas bases principais, especialmente no interior do estado de São Paulo, além de algumas outras eleições que sugerem algum nível de nacionalização, como é o caso das disputas no Rio de Janeiro, em Belo Horizonte e em Porto Alegre.
As eleições de 2020 mostraram, entretanto, que são os partidos de centro que dominam os pleitos municipais. Naquele ano, MDB, PSD, PP e DEM (hoje União Brasil) elegeram prefeitos em 43 das 96 maiores cidades do país, com mais de 200 mil habitantes, incluindo 13 capitais – juntos, os partidos de centro conquistaram 2.591 dos 5.570 municípios brasileiros. Esses números ampliam os desafios da disputa deste ano ao, eventualmente, incorporar a polarização lulismo-bolsonarismo em suas chapas.
Um exemplo disso é a capital paulista, em que o prefeito, Ricardo Nunes, busca a reeleição pelo MDB, conta com o apoio de todos os partidos então considerados de centro em 2020 e escolheu como vice em sua chapa um nome do PL. Apesar de Nunes estar representando forças do centro, ele é um candidato com afinidades políticas anteriores com a direita, o que coloca em questão na disputa paulista quem será, e se haverá, um representante do centro. Por outro lado, seu principal concorrente é Guilherme Boulos, do PSOL, cuja chapa acolheu uma indicação do PT como vice.
Com isso, para além das disputas já nacionalizadas, uma das grandes incógnitas desta eleição, e que vale a pena observar, é se haverá espaço para a reconstituição de um centro político no Brasil.
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