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"Helderismo" busca consolidar influência de Barbalho na sucessão de Belém

Atualizado: 20 de set.

Rodolfo Silva Marques*


As eleições municipais deste ano, que levarão mais de 100 milhões de brasileiros às urnas no dia 6 de outubro, guardam peculiaridades e disputas que se mostram muito acirradas, como em São Paulo, e Porto Alegre e Belém., com registro de empate técnico entre os primeiros colocados.


No norte do Brasil, a disputa para a prefeitura de Belém apresenta 9 candidatos, confirmados nas convenções partidárias, em agosto: Éder Mauro (PL); Edmilson Rodrigues (PSOL/coligação “A nossa família é o povo”, formada por PSOL, REDE, PT, PCdoB, PV e PCB); Everaldo Eguchi (PRTB); Igor Normando (MDB/coligação “Levanta Belém”, composta por MDB, PSB, PRD, União Brasil, PDT, PP, PSD, PSDB e Cidadania); Ítalo Abati (NOVO); Jefferson Lima (Podemos); Raquel Brício (Unidade Popular); Thiago Araújo (Republicanos/coligação “Belém quer mudança de verdade”, integrada por Republicanos, AGIR, Solidariedade, Democracia Cristã, Avante e PMB); e Well Macêdo (PSTU).


Três candidatos emergem como favoritos para avançar ao 2° turno: Edmilson Rodrigues, atual prefeito, candidato à reeleição e que tem o apoio do presidente Lula; Éder Mauro, deputado federal e que tem como principal cabo eleitoral o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL); e Igor Normando, deputado estadual e cuja candidatura tem total suporte do governador do estado do Pará, Helder Barbalho.


Desde a redemocratização no país, em 1985, e a retomada das eleições municipais, o clã Barbalho, outrora liderado pelo hoje senador Jader Barbalho (MDB-PA) e agora comandado pelo governador do Pará, Helder Barbalho, nunca venceu eleição para a prefeitura de Belém. Houve tentativas anteriores do MDB e do clã Barbalho na conquista da capital.


Em 1988, foi Fernando Velasco, derrotado por Sahid Xerfan, então no PTB. Em 1992, o PMDB/MDB não teve candidato próprio e o vencedor do pleito foi Hélio Gueiros, então no PFL, antigo aliado da família. Em 1996, Elcione Barbalho, mãe do atual governador do Pará, ficou em terceiro lugar – Edmilson Rodrigues, então no PT, venceu o pleito. Em 2000, Edmilson Rodrigues se reelegeu – candidato do PMDB foi Augusto Rezende. Hélio Gueiros voltou ao PMDB no pleito de 2004 e ficou em terceiro lugar, em eleição vencida por Duciomar Costa, então no PTB. Duciomar Costa se reelegeu em 2008, vencendo em segundo turno o candidato José Priante, do PMDB, que é primo de Jáder e de Helder Barbalho.


Em 2012, José Priante tentou ser prefeito, novamente, pelo PMDB, e ficou na quarta posição – o vencedor foi Zenaldo Coutinho, do PSDB. Em 2016, Zenaldo conquistou novo mandato – candidato do PMDB foi o professor Carlos Maneschy, que ficou na quinta posição geral. Em 2020, Edmilson Rodrigues conquistou a vitória eleitoral pela terceira vez – José Priante (MDB) tentou ser prefeito pela terceira vez, mas ficou na terceira colocação no pleito.


Agora em 2024, já em seu segundo mandato como governador e gozando de grande popularidade em nível local, com ressonância nos campos nacional e internacional, Helder Barbalho busca mobilizar toda a sua força eleitoral a favor do candidato por ele escolhido – Igor Normando (LEGAL, 2022).


Igor Wander Centeno Normando tem 37 anos, é primo do governador Helder Barbalho e foi vereador de Belém entre 2013 e 2016 e entre 2017 e 2018. Retornou ao MDB em 2024, após passagens pelo PHS e pelo Podemos – a sua primeira filiação partidária, entre 2008 e 2012, foi no então PMDB. Elegeu-se deputado estadual em 2018 e cumpriu mandado entre 2019 e 2022. Reelegeu-se e ocupa novo mandato desde 2023. Entre fevereiro de 2023 e junho de 2024, Normando ocupou o cargo de secretário de Articulação da Cidadania do governo do Pará, comandando um dos principais projetos da gestão estadual, as Usinas da Paz.


Helder decidiu pela candidatura de Normando entre os meses de março e abril de 2024. Anteriormente, por conta de uma aliança em nível nacional com o presidente Lula (PT), o governador do estado apoiava o atual prefeito, Edmilson Rodrigues. Inclusive, em um período intenso da pandemia da Covid-19, entre 2021 e 2022, Helder e Edmilson atuaram em várias ações conjuntas no enfrentamento da emergência sanitária.


A candidatura de Normando foi confirmada na convenção do MDB realizada em 5 de agosto. Helder Barbalho fez um discurso efusivo a favor de seu aliado político.

 

Imagem 1: Confirmação de Igor Normando (MDB) como candidato à prefeitura de Belém, em 2024

 

Emergem importantes pesquisas acadêmicas sobre a possibilidade de transferência de capital eleitoral a partir da aliança política para um determinado candidato. No caso, há algumas pesquisas que tratam sobre a teoria clássica do efeito coattail, que investiga como um candidato forte na disputa para o executivo transfere votos para seus correligionários nas eleições para o legislativo. Há uma discussão relevante, também, sobre a ação de prefeitos e construção de apoio legislativo nos municípios.


Todavia, a transferência de prestígio eleitoral – ou mesmo de votos – entre cargos executivos é mais difícil de mensurar, dentre outras questões, por causa do calendário eleitoral – eleições majoritárias se alternam a cada dois anos: após às eleições municipais de 2024, há a eleição para presidentes e governadores, em 2026, e assim sucessivamente.


De qualquer forma, é uma questão a ser observada no contexto da Ciência Política, quando governantes ocupam os papeis de cabos eleitorais para candidatos ao executivo municipal. Indiscutivelmente, a participação de um governador em uma campanha para a prefeitura pode ser um fator importante, já que ele pode influenciar a eleição com seu apoio, recursos e visibilidade.


A associação com Helder Barbalho oferece a Igor Normando visibilidade política, além de agregar legitimidade ao seu nome. O governador, figura política influente no estado, pode aumentar o alcance e o impacto da campanha de Normando. Helder já está usando alguns mecanismos, que tendem a se ampliar até as vésperas da eleição, a saber:


a)  apoio público, no lançamento da campanha e em aparições públicas, como caminhadas, comícios e carreatas;

b)     influência política dentro da esfera pública, associando-se a grandes projetos;

c)     campanha pessoal: além de estarem lado a lado em eventos, Helder está presente no Horário Eleitoral Gratuito, e faz pedido pessoal de votos ao seu aliado; e

d)     mobilização de eleitores.


O apoio de Barbalho a Normando também mostra uma estratégia para fortalecer sua base política em Belém e garantir uma continuidade em futuras agendas e projetos do governo estadual. Dado representativo é a realização da COP-30, em Belém, em novembro de 2025.

A confirmação da realização do evento no Brasil e na Amazônia teve participação efetiva de Helder Barbalho – e é essencial ter um prefeito aliado para a condução da COP-30.


Assim, a liderança política da família Barbalho, personificada na figura do governador Helder Barbalho, terá um grande “teste” no pleito municipal de 2024. Igor Normando se mostra competitivo no pleito e boa parte do seu prestígio, indiscutivelmente, é derivado da visibilidade obtida enquanto parlamentar e como Secretário de Estado, além da sua parceria com o chefe do executivo estadual. É o “helderismo” ampliando o seu legado e passando por nova avaliação nas urnas.


*Rodolfo Silva Marques é doutor em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e professor-adjunto da UNAMA e da FEAPA. Este artigo é parte das análises produzidas pelo Observatório das Eleições 2024, iniciativa do Instituto da Democracia e da Democratização da Comunicação (INCT IDDC).

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