Fabiano Santos*
A mais recente pesquisa de sondagem de intenção de votos da Quaest mostra crescimento de 5 pontos percentuais do candidato Alexandre Ramagem, do PL, que agora contaria com 18% de apoio, ao passo que, na mesma pesquisa, Eduardo Paes, atual prefeito e candidato à reeleição pelo PSD cai 7 pontos, o que representaria 57% de respaldo dos respondentes. Ao menos três pontos parecem relevantes no atual cenário.
O primeiro diz respeito à dinâmica da competição, sobretudo à televisiva. Aos poucos, na medida em que Ramagem se torna conhecido e associado ao ex-presidente Jair Bolsonaro, aumenta seu desempenho nas sondagens. Por alguma ironia, aquele instrumento que se encontrava no ostracismo desde a campanha presidencial de 2018, vencida por Bolsonaro, embora tenha usufruído de tempo ínfimo de propaganda eleitoral gratuita no rádio e na tv, aparece como protagonista nessa reta final de campanha no Rio de Janeiro. Ao que parece, a campanha de Paes estava ciente desse possível impacto e previa redução em sua vantagem em patamares equivalentes ao mostrado agora pela Quaest. Dado que restam pouco mais de duas semanas até a decisão do voto em primeiro turno, a questão é saber da velocidade com que a mudança vem ocorrendo e se há tempo hábil para o opositor principal da atual gestão fazer jus ao tamanho do eleitorado bolsonarista na cidade. A ver – na TV...
O segundo ponto remete a uma questão sensível que tem atingido as campanhas no Brasil e alhures. O famoso erro dos institutos de pesquisa, sobretudo em contextos nos quais há muitos candidatos disputando o pleito. Não há dúvida quanto à expertise e seriedade do trabalho feito, nem sobre as bases teóricas dos métodos utilizados para capturar as intenções de voto. A realidade, quanto a essa dimensão, só tem melhorado ao longo dos anos, o que alça a comunidade brasileira de experts em comportamento eleitoral à condição de top 5 mundiais.
O problema da discrepância entre resultado da urna e das pesquisas, se vier a existir, não consiste, então, em uma questão técnica em torno da margem de erro, mas sim na atitude de uma grande massa de respondentes, os quais tendem a associar institutos de pesquisa a uma conspiração comunista internacional da qual o Brasil é vítima preferencial. Em uma palavra, escamoteiam ou simplesmente se recusam a responder às enquetes. O perfil de quem assume tal atitude tende a corresponder ao perfil de apoiadores da direita radical – os bolsonaristas. Também a ver – e também na tv, no final do domingo 6 de outubro.
O terceiro e último ponto a se considerar reside na melhor estratégia de campanha do atual prefeito a essa altura dos acontecimentos. Continuar a tocar de lado e fazer o tempo andar ou ser mais agressivo nestes últimos dias de contenda (no primeiro turno)? O que significaria tornar-se mais agressivo no contexto? Dado que Ramagem não é o prefeito e que não possui histórico de administrador (exceto por sua passagem à frente do Ministério da Justiça – ponto a explorar em improvável, mas não impossível segundo turno, por certo), fazer com que a campanha adquira tração aponta para o grande arco de alianças de apoio conquistado por Paes.
Mobilizar os partidos da base para o corpo a corpo na reta final é a senha para administração da vantagem. Efeito não antecipado positivo de uma eventual mudança de estratégia residiria na politização e atenção do eleitorado em torno da campanha à Câmara dos Vereadores. Muito importante para o Rio de Janeiro a escolha de nomes sérios, com propostas inovadoras e contemporâneas, à altura dos desafios a serem enfrentados pela cidade em tempos de caos climático. Decisivo será não termos na Câmara um conjunto de negacionistas a repetir o mantra reacionário que tem assolado a política brasileira nos últimos dez anos. A mobilização, contudo, tem de ser coordenada pelas candidaturas ao Executivo. Isso não veremos na tv, mas sim nas ruas.
(Imagem: 10ª Marcha das Mulheres Negras do RJ; Tânia Rêgo/Agência Brasil)
*Fabiano Santos é professor titular e pesquisador do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), onde coordena o Núcleo de Estudos sobre o Congresso (NECON) e o e o Laboratório de Estudos Geopolíticos da Amazônia Legal (LEGAL).Amazônia Legal (LEGAL). Este artigo foi publicado originalmente em O Globo.
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