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A corrida eleitoral na capital em que quem lidera pesquisas sempre vence

Anderson Cristopher dos Santos*



As eleições em Natal, capital do Rio Grande do Norte, costumam ser previsíveis: o líder das pesquisas realizadas cerca de 40 dias antes do primeiro turno tem vencido consistentemente desde 1996.


Em 2024, o ex-prefeito Carlos Eduardo Alves (PSD) lidera as pesquisas. Se eleito, Alves iniciará seu quinto mandato, igualando Teresa Surita, ex-prefeita de Boa Vista e atual detentora do recorde. Carlos Eduardo assumiu o cargo de prefeito em 2002, quando a então prefeita Wilma de Faria renunciou, e foi então reeleito em 2004, 2012 e 2016.


O estado é governado por Fátima Bezerra (PT), reeleita no primeiro turno de 2022 com 58% dos votos válidos. Em Natal, ela obteve 49,9% dos votos, percentual similar ao desempenho do presidente Lula na capital (50,2%).


Neste ano, há seis candidatos na disputa: Alves, os deputados federais Paulinho Freire (União Brasil) e Natália Bonavides (PT), o ex-deputado federal Rafael Motta (Avante), Nando Poeta (PSTU) e Heró Bezerra (PRTB). Na média das pesquisas (CNN), Alves lidera com 38% das intenções de voto; seguido por Freire, com 20%; Bonavides, com 15%; e Motta, com 4%. Os demais não atingem 1%.


O atual prefeito, Álvaro Dias (PSDB), assumiu a capital em 2018 após a renúncia de Alves para concorrer ao governo do estado e foi reeleito com folga em 2020. Carlos Eduardo e Dias mantiveram fortes laços políticos – a atual vice-prefeita, Aíla Cortez, é prima da esposa de Alves. Apesar disso, Alves é considerado o principal candidato de oposição, porque os antes aliados se afastaram ao longo do segundo mandato do prefeito. Nas eleições de 2022, Carlos Eduardo se candidatou ao Senado na chapa liderada pelo PT, opositor do governo municipal, mas foi derrotado por Rogério Marinho (PL).


As pesquisas mostram que os governos estadual e municipal são desaprovados na capital. O saldo aprova/desaprova ao governo Fátima é de amplos 36 pontos negativos, enquanto o saldo de Dias é de 10 pontos negativos, de acordo com a última pesquisa Exatus, de 06 e 07 de setembro (RN-01309/2024).


O saldo aprova/desaprova do governo municipal sugere favoritismo da oposição. Alves está em vantagem por ter sido bem avaliado em todos os seus mandatos e o mais votado em Natal na sua frustrada candidatura ao Senado em 2022, obtendo 42% dos votos válidos naquele ano.


Alves tem histórico consistente nas pesquisas realizadas 40 dias antes das eleições municipais que disputou, com média de 40% das intenções de voto. Seu maior desafio foi em 2004, quando obteve 36% no final de agosto.


A coligação de Alves envolve o PSD e o Democracia Cristã (DC), com Jacó Jácome (DC) como vice. Freire (União) tem apoio de sete partidos e é o candidato da situação, com perfil ideológico à direita. Sua vice, Joanna Guerra (Republicanos), foi secretária de planejamento da gestão Dias. Bonavides, a principal candidata de esquerda, tem em sua coligação a Federação Brasil da Esperança e mais três partidos,  conta com apoios do Governo Federal, avaliado positivamente em Natal (3 pontos de saldo), e do governo estadual. Seu vice é o vereador Milklei Leite (PV).


Os demais candidatos, Rafael Motta, Nando Poeta e Heró Bezerra, possuem chapas "puro sangue".


A candidatura de Freire pode ser vista como favorita para chegar a um eventual segundo turno, enquanto Bonavides tenta superar o desempenho do PT nas eleições anteriores. Em 2020, o ex-senador e ex-presidente da Petrobras, Jean-Paul Prates, obteve 14% dos votos válidos no turno único, a segunda colocação, 42 pontos percentuais atrás do vitorioso.


A candidatura do PT é negativamente influenciada pela ampla reprovação ao governo estadual. Mesmo assim, a deputada do PT pode superar a marca obtida em 2020 por Prates, como as pesquisas apontam.


A rejeição aos candidatos é importante, mas até o momento é fator de atenção apenas para Bonavides: 21% na última pesquisa (Exatus). Os demais candidatos têm rejeição inferior a 14%. Os dados da última pesquisa Exatus são similares às médias das pesquisas.


Destaco, por fim, que 11% estão indecisos e 12% não pretendem escolher um candidato – números que dificilmente se converterão totalmente em votos brancos ou nulos.


Os primeiros dias de campanha foram marcados por um ataque de todos contra Alves, que tem se ausentado de debates e apresenta um material publicitário que ignora os adversários, apresentando as suas realizações passadas. Bonavides aponta as ligações políticas anteriores entre Carlos Eduardo e Paulinho Freire, enquanto Freire faz o mesmo em relação ao PT e Carlos Eduardo. Nos últimos dias, Alves mostra-se mais combativo, provavelmente porque duas pesquisas apontaram maior acirramento da disputa (Futura e Data Vero).


As falhas dos governos de Alves se sobrepõem muitas vezes às críticas à atual gestão. Os candidatos têm explorado a falta de vagas em creches e falhas na mobilidade urbana. Freire acusa o PT de se opor ao empresariado, e o PT aponta elitismo de Freire e Alves.


O efeito de campanha pode gerar surpresas, mas será preciso aguardar para observar a eficácia das diretrizes seguidas pelos candidatos e suas equipes.

 

(Crédito da imagem: Divulgação/Secretaria de Turismo)


* Anderson Cristopher dos Santos é professor do Instituto de Políticas Públicas da UFRN e doutor em Ciências Sociais pela UFRN. Este artigo foi publicado originalmente pelo Jornal GGN.

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