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  • Fabiano Santos e Rodrigo Dolandeli

A COP30 causará saia-justa em Belém?

Sede do evento em 2025, capital paraense inicia corrida eleitoral com candidato do PL, crítico do debate sobre as mudanças climáticas, à frente nas intenções de voto


Fabiano Santos e Rodrigo Dolandeli*


Belém, capital do Pará, sediará em novembro de 2025 a próxima Conferência da ONU para Mudanças Climáticas, a COP30, a mais importante cúpula mundial relacionada ao clima do planeta, atraindo para si os holofotes da agenda ambiental no país. A cidade foi anunciada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2023 e, desde então, iniciaram-se as tratativas para a organização do evento, que é considerado uma das prioridades do governo federal. A despeito disso, uma questão política vem chamando mais atenção: a disputa pela prefeitura. 


O atual mandatário, Edmilson Rodrigues (PSOL), aliado do presidente Lula, tem sua gestão mal-avaliada. Assim, com apenas 13,8% das intenções de voto de acordo com o Instituto Paraná Pesquisas, a sua reeleição encontra-se ameaçada, com sua candidatura estando na terceira colocação da corrida eleitoral. Além disso, Rodrigues tem perdido apoio de aliados tradicionais, como PSB e PDT.


Portanto, a “saia-justa” seria uma eventual vitória do primeiro colocado, o deputado federal delegado Éder Mauro (PL), um notório aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro, que conta com 30,7% das intenções de voto em pesquisa realizada em julho. O candidato do PL, conhecido por suas atitudes agressivas e extremistas na Câmara dos Deputados, consolidou-se como o principal quadro do bolsonarismo no Pará.  


A situação é embaraçosa. Embora o deputado bolsonarista tenha se autodeclarado, em um de seus últimos pronunciamentos na Câmara dos Deputados, o “prefeito da COP”, trata-se de um conhecido crítico do debate sobre mudanças climáticas, atuando em favor do licenciamento ambiental de garimpos, já tendo minimizado a importância da realização da COP em Belém. E isso em sintonia com seu maior apoiador, Jair Bolsonaro, que, na Presidência da República, deixou de realizar a conferência então prevista para acontecer em 2019 no Brasil.


Entre Éder Mauro, primeiro colocado, e o prefeito Edmilson Rodrigues, na terceira posição, encontra-se o deputado estadual e ex-secretário estadual de Articulação da Cidadania Igor Normando (MDB), com 18,2% das intenções de voto. O emedebista conta com a máquina do governo estadual a seu favor, com uma ampla coligação de dez partidos, ademais da alta popularidade do governador Helder Barbalho (MDB), um dos principais promotores e articuladores da COP30.  


O quadro eleitoral, de todo modo, contrasta com a tendência observada na pesquisa “A cara da democracia” 2024, realizada pelo IDDC-INCT (Instituto da Democracia e da Democratização da Comunicação) , segundo a qual os titulares, ou candidatos que representem a continuidade, sairiam, na média nacional, com 40,8% da preferência dos entrevistados. Na mesma pesquisa, 52,3% indicaram que poderiam votar, ou com certeza votariam, em um candidato apoiado pelo presidente Lula. Tais dados sugerem sobrevida à campanha de Edmilson Rodrigues, cabendo destacar o histórico de Belém de campanhas disputadas e com reviravoltas.


De acordo com o Instituto Paraná Pesquisas, 74,9% da população desaprova a administração municipal e apenas 2,7% a avaliam como ótima. A título de ilustração, a avaliação do governador Helder Barbalho (MDB) teve somente 17,6% de desaprovação.


O resultado das pesquisas reflete uma série de problemas bastante conhecidos na cidade. Uma reclamação recorrente é o serviço de coleta de lixo, sobre o qual, muito embora tenha havido a adoção de medidas visando sua resolução, ainda não houve percepção de melhora entre a maioria dos respondentes.


O transporte público, problema, de resto, crônico na maioria das capitais do país, é alvo de críticas severas. Nesse caso, a prefeitura buscou sanar a questão investindo na modernização da frota de ônibus, adquirindo 210 ônibus elétricos, com ar-condicionado, wifi e com baixa emissão de poluentes. Contudo, até o momento, o Tribunal de Contas dos Municípios do Pará (TCM-PA) não avalizou a compra da frota em função de supostas irregularidades.


Bem verdade, a prefeitura realiza reformas em espaços públicos, visando a recepção da COP30 em Belém, que poderiam surtir efeito positivo sobre a gestão. Com recursos da Itaipu Binacional, ela trabalha na reforma do Complexo do Mercado de São Brás, que inclui, em sua estrutura, espaços turísticos como cafés, lojas de artesanato, restaurantes; na reforma do Complexo do Ver-o-Peso, a maior feira ao ar livre da América Latina, referência turística da capital; e na implantação do Parque Urbano Igarapé São Joaquim, principal curso d’água que integra a Bacia do Una, a maior bacia hidrográfica da cidade, ampliando áreas de lazer e a cobertura verde na cidade, bem como o sistema viário urbano.


A gestão atual, no que concerne mais diretamente à COP, criou o Fórum Municipal de Mudanças Climáticas. Nesse espaço, que conta com representantes da sociedade civil, instituições de ensino e pesquisa, ONGs e associações e entidades que tratam sobre o tema, o objetivo é a elaboração do Plano Municipal de Mudanças Climáticas de Belém. O debate sobre o tema tem movimentado assim o espaço político da cidade em seus mais diversos distritos.   


Relevante ressaltar que essa ação governamental encontra respaldo na opinião pública da Amazônia de maneira mais ampla, segundo a Pesquisa Valores Ambientais e Atitudes sobre a Amazônia, realizada pelo Programa de Pós-graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Pará. A sondagem revela que para a população residente na região, tanto o desmatamento quanto as queimadas seriam os principais problemas enfrentados atualmente, representando, respectivamente, 26,1% e 16,8% das respostas, bem à frente de outras questões sociais, como o desemprego e a corrupção, os dois problemas mais graves enfrentados atualmente no país, segundo os respondentes da pesquisa “A cara da democracia”.


Em resumo, o tema ambiental é importante para o cidadão sob vários aspectos, sobretudo na Amazônia, mas não seria politicamente decisiva, ou seja, não teria peso relevante na decisão do eleitor, porquanto boa parte da responsabilidade sobre o clima, segundo as mesmas pesquisas, recairia sobre os próprios cidadãos, não nos governantes.


A possibilidade de uma “saia-justa” existe, mas é possível que se desfaça no decorrer do processo eleitoral. Se favoravelmente ou não ao atual prefeito, não é possível prever. Há ações do governo municipal em andamento que podem melhorar a avaliação da sua gestão até o final do primeiro turno, sobretudo focadas na questão ambiental. Por certo, Belém reúne as condições necessárias para ser a sede da COP30, com apoio governamental dos entes da federação que garantam espaço para o debate do clima no mundo a partir da Amazônia. Pior para a cidade se um candidato negacionista vier a ser mandatário em período tão crucial em sua trajetória de desenvolvimento. 


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